Embora a IA esteja a transformar a força de trabalho, os seus efeitos variam amplamente entre regiões e setores. As nossas últimas análises comparam como diferentes países do Reino Unido, Europa, Médio Oriente e África, e setores-chave estão a responder, destacando tanto o dinamismo como a cautela no panorama atual.
Este é um momento decisivo para a liderança. Construir confiança, dar prioridade às pessoas e investir em competências é fundamental para garantir que a IA se torna uma força de capacitação, e não de substituição.
O futuro do trabalho está a acontecer. Está preparado para o moldar?
Não estamos à espera do futuro do trabalho – estamos a construí-lo. A Inteligência Artificial deixou de ser um fator de disrupção distante; é uma força presente que está a remodelar a forma como vivemos e trabalhamos. O AI Jobs Barometer 2025 da PwC, baseado em quase mil milhões de anúncios de emprego em 15 países da EMEA, oferece uma perspetiva poderosa sobre esta transformação. Mas isto não é apenas sobre tecnologia – é sobre pessoas, propósito e progresso.
“O AI Jobs Barometer 2025 evidencia uma tendência clara: setores como Tecnologias da Informação e Comunicação já apresentam quase 10% dos anúncios de emprego associados a competências em Inteligência Artificial em países como a Suécia e a Dinamarca. Este dado não representa apenas uma evolução tecnológica, mas uma mudança estratégica na forma como as organizações criam valor. Integrar IA nos modelos operacionais, de forma responsável e orientada para resultados, será determinante para aumentar a eficiência, acelerar a inovação e garantir vantagem competitiva num mercado cada vez mais dinâmico.”
O crescimento dos empregos relacionados com IA está a acelerar, mas o ritmo e o padrão variam. Embora a proporção atual de funções expostas à IA permaneça modesta em muitos mercados, a duplicação ou triplicação dessas funções em apenas alguns anos sinaliza as fases iniciais de um crescimento exponencial, especialmente porque a maioria das organizações ainda está nas primeiras fases de adoção da IA.
A Dinamarca lidera a região, com funções relacionadas com IA a representar 2,9% de todos os anúncios de emprego em 2024. A Polónia registou um aumento de 235% em ocupações expostas à IA desde 2019, enquanto a Irlanda quase duplicou a sua quota para 2,2%, com o setor de Informação e Comunicação a representar 13,9% dos anúncios relacionados com IA em 2024 (face a cerca de 6,3% em 2018).
Segundo Gabriela Teixeira, Consulting Lead Partner da PwC Portugal:
Nos Emirados Árabes Unidos, os anúncios que exigem competências em IA aumentaram de 5.000 em 2021 para 10.000 em 2024, com a procura a crescer rapidamente nos setores tecnológico e profissional, enquanto indústrias tradicionais mostram uma adoção mais lenta. A tendência geral sugere uma crescente integração da IA em vários setores.
A Suíça recuperou para 1,4% em 2024 após uma queda no ano anterior, enquanto a África do Sul atingiu a mesma marca, com a educação e as TIC a impulsionar a procura. Apesar da desaceleração geral do mercado de trabalho sul-africano, as funções relacionadas com IA mantiveram-se estáveis, sinalizando uma procura sustentada.
O Reino Unido e a Alemanha avançam com cautela: o Reino Unido manteve-se em 1,4%, enquanto a Alemanha oscilou ligeiramente em torno de 1,2%. Itália e França mostram uma penetração mais modesta. França viu os anúncios relacionados com IA disparar de 21.000 em 2018 para 166.000 em 2024. Itália passou de 0,4% para 0,9% no mesmo período, com um pico de 30.000 funções em 2024.
Mesmo em mercados como a Noruega e a Suécia, onde os anúncios gerais caíram, as funções de IA mantiveram-se resilientes, sugerindo que a IA está a tornar-se um pilar estratégico.
O setor das TIC continua a ser o dominante para funções relacionadas com IA em toda a EMEA. Na Suécia, Dinamarca e Países Baixos, quase 1 em cada 10 anúncios de emprego de TIC exige agora competências em IA. Dada a natureza das funções de TIC, quase todas são inerentemente expostas à IA, o que pode explicar a sua quota consistentemente mais elevada de anúncios relacionados com IA. Mas a história não acaba aqui.
Na Irlanda e em Espanha, os serviços profissionais e a indústria transformadora estão a integrar cada vez mais a IA. França está a registar um crescimento notável na saúde e nos cuidados sociais, enquanto o setor da educação na África do Sul viu a procura de competências em IA aumentar de 4,9% para 8,5% entre 2021 e 2024. Nos Emirados Árabes Unidos, os serviços profissionais e a educação estão a ser remodelados por iniciativas nacionais centradas nas competências.
O mercado de IA na Suíça estabilizou, com a indústria transformadora agora a liderar nos anúncios de emprego relacionados com IA. A quota de empregos em IA na Noruega mantém-se baixa mas estável, enquanto a Bélgica e a Itália estão a registar uma expansão gradual nos setores profissionais e técnicos, indicando uma integração crescente da IA nestes domínios.
Esta diversificação sinaliza uma mudança: a IA já não está confinada à tecnologia; está a tornar-se parte integrante da estrutura de todas as indústrias.
A relação entre a exposição à IA e o crescimento do emprego é complexa e específica para cada país.
No Reino Unido, na Noruega e na Dinamarca, uma maior exposição à IA correlaciona-se com um crescimento mais lento do emprego, sugerindo alguma substituição em funções automatizáveis. Na Dinamarca, por exemplo, funções altamente expostas à IA (por exemplo, legisladores, operadores de call center, programadores) cresceram 621% desde 2019, em comparação com 824% para funções menos expostas (por exemplo, empregados de limpeza, construtores).
Mas na Polónia, França e Países Baixos, acontece o oposto. As funções expostas à IA na Polónia cresceram 235%, em comparação com um crescimento de 76% nas funções menos expostas. França registou um aumento de 273% nos anúncios de emprego expostos à IA, contra 251% para funções menos expostas. Os Países Baixos reportaram um crescimento de 307% nas funções expostas à IA, ligeiramente abaixo dos 330% observados nas funções menos expostas. A Suécia, a Alemanha e a Itália situam-se algures no meio, mostrando que, quando a IA capacita em vez de substituir, o crescimento do emprego tende a acompanhar.
Esta divergência nas taxas de crescimento reflete também a divisão estrutural entre funções administrativas, de escritório ou de gestão e de funções manuais, técnicas ou físicas: os empregos expostos à IA tendem a ser mais especializados, baseados em diplomas e de crescimento mais lento, enquanto as funções menos expostas, muitas vezes em setores manuais ou de serviços, estão a crescer mais rapidamente em muitos mercados.
Em toda a região da EMEA, está em curso uma mudança significativa para o recrutamento baseado em competências.
Na Alemanha, os requisitos de diploma para funções expostas à IA caíram de 47% para 41%. Os Países Baixos registaram uma queda semelhante, de 67% para 62%. O quartil superior das funções expostas à IA no Reino Unido apresentou uma taxa de mudança de competências 59% mais elevada, enquanto a Suíça reportou uma alteração líquida de competências 138% superior nas funções expostas à IA.
As funções expostas à IA na Irlanda evoluíram quase três vezes mais rápido do que as restantes, e na África do Sul, o quartil superior das funções expostas à IA registou uma alteração 1,32 vezes maior nas competências exigidas.
Mesmo nos Emirados Árabes Unidos, onde 84% das funções expostas à IA ainda exigem diplomas, iniciativas nacionais como o Coders HQ e o AI Talent Bridge estão a impulsionar a mudança.
Isto não é apenas uma mudança tecnológica; é uma mudança cultural. Trata-se de construir uma força de trabalho que não seja apenas consciente da IA, mas fluente em IA.
À medida que as organizações passam do recrutamento baseado em diplomas para modelos baseados em competências, e à medida que as funções expostas à IA evoluem a uma velocidade sem precedentes, surge uma nova questão: como ir além de só acompanhar a mudança, passando a liderá-la?
A resposta está na forma como concebemos os sistemas que apoiam as pessoas no trabalho. Já não se trata apenas de melhorar as competências individuais; trata-se de reinventar a própria arquitetura do trabalho. E no centro desta transformação está a Agentic AI.
Para liderar a mudança, é necessária uma abordagem orientada para o futuro que vá além da comparação da organização com os seus pares para ver onde podem ser feitas melhorias. As empresas na próxima fronteira estão a repensar os seus processos como se fossem nativas de IA e a automatizar e aumentar tudo o que for possível, mantendo as pessoas no circuito quando necessário.
A Agentic AI refere-se a sistemas autónomos que podem aprender, raciocinar e agir de forma independente. Ao contrário da automação tradicional, que substitui tarefas discretas, a Agentic AI colabora com os humanos – melhorando a tomada de decisões, acelerando a resolução de problemas e libertando tempo para trabalho estratégico, criativo e centrado nas pessoas.
Em toda a região da EMEA, as organizações líderes já estão a ver os benefícios. As equipas que incorporam Agentic AI nos seus fluxos de trabalho reportam ganhos mensuráveis em eficiência, receitas e produtividade. Estes sistemas deixaram de ser apenas ferramentas, estão a tornar-se colegas de confiança.
Mas o verdadeiro poder da Agentic AI reside na orquestração. Quando implementados de forma ponderada, estes sistemas não apenas otimizam processos, como ajudam a elevar o papel das pessoas. Permitem uma mudança do trabalho reativo para o proativo, das tarefas rotineiras para as que criam valor e de funções estáticas para capacidades dinâmicas.
Para desbloquear este potencial, as organizações devem investir em mais do que tecnologia. Precisam das bases culturais, éticas e operacionais que permitam à Agentic AI. Isso inclui:
conceber fluxos de trabalho que integrem a IA na tomada de decisões humanas e a tomada de decisões humanas na força de trabalho com Agentic AI;
estabelecer estruturas de governance para garantir transparência, equidade e responsabilidade; e
dotar as equipas das competências e da confiança necessárias para colaborar com a IA
A adoção de agentes de IA em larga escala depende da confiança. Embora os primeiros casos de utilização sejam promissores, o impacto mais amplo depende da experimentação contínua e de melhorias demonstráveis na qualidade e aplicabilidade. Construir confiança requer transparência e uma implementação responsável por parte dos empregadores, fornecedores de tecnologia e governos.
“A IA está a reescrever as regras do trabalho – mas é a confiança que continua a sustentar a verdadeira liderança. As organizações que liderarem com transparência e propósito irão moldar um futuro onde pessoas e IA prosperam juntas.”
A IA Responsável vai além do compliance. Significa incorporar justiça, explicabilidade e governance na forma como a IA é concebida, implementada e escalada, garantindo que reflete os valores da organização e conquista a confiança dos stakeholders. Regulamentos como o princípio “human-in-the-loop” do AI Act da UE reforçam a responsabilidade humana e ajudam a construir confiança nos sistemas de IA.
À medida que os agentes de IA se tornam parte integrante dos fluxos de trabalho, serão essenciais novos modelos de gestão. As pessoas irão instruir, colaborar e coordenar equipas de agentes. Os líderes devem dar o exemplo nestas novas formas de trabalhar e garantir que a IA melhora, e não substitui, a contribuição humana.
À medida que as funções evoluem, os modelos tradicionais de recompensa podem deixar de ser aplicáveis. As organizações que valorizarem adaptabilidade, aprendizagem e impacto estarão melhor posicionadas para atrair e reter talento, especialmente em funções expostas à IA, onde as competências estão a evoluir rapidamente.
À medida que olhamos para o panorama da EMEA, os sinais são claros, mas a história ainda está a ser escrita. Os líderes devem perguntar a si próprios:
Estamos a construir estratégias de IA que capacitam as pessoas ou que as substituem?
Como estamos a medir o impacto da IA na produtividade, inclusão e confiança?
Os nossos modelos de recrutamento e recompensa estão a acompanhar a revolução das competências?
Que papel deve desempenhar a Agentic AI no nosso modelo operacional e estamos preparados para isso?
Segundo Gabriela Teixeira, Consulting Lead Partner da PwC Portugal: “o futuro do trabalho já está a acontecer – e não se trata de escolher entre pessoas ou tecnologia, mas de fazer com que ambas cresçam lado a lado. As organizações que apostarem em competências, confiança e modelos pensados para o IA vão liderar esta transformação”.
Já estamos a viver a nova era do trabalho. A questão é: vamos moldá-la ou ser moldados por ela?