Igualdade e Transparência Salarial

Uma agenda estratégica para a sustentabilidade organizacional

As recomendações da PwC sobre People Analytics
  • Julho 29, 2025

Num cenário corporativo em constante transformação, onde temas como a diversidade, propósito e justiça organizacional ganham centralidade, a transparência e igualdade salarial emergem como pilares incontornáveis de uma estratégia moderna de gestão de pessoas.

A Diretiva Europeia 2023/970 institui novas exigências no domínio da equidade remuneratória entre mulheres e homens, tornando obrigatório aquilo que, cada vez mais, é esperado pelas pessoas: justiça, clareza e responsabilidade. Mais do que um exercício de conformidade legal, esta diretiva deve ser entendida como uma oportunidade estratégica para consolidar práticas mais justas, fomentar culturas organizacionais sustentáveis e reforçar a confiança interna.

Na 6.ª edição da "HR for Business", a nossa equipa de especialistas em Workforce aprofundam os desafios e implicações da Igualdade e Transparência Salarial, enquadrando-os nas novas exigências regulatórias e destacando o papel estratégico dos RH na promoção de práticas mais justas, sustentáveis e alinhadas com os valores emergentes.

A transparência salarial deixou de ser um tabu. Hoje, representa maturidade organizacional, reforça o posicionamento de marca empregadora e atrai talento consciente. A igualdade salarial, por sua vez, deixou de ser apenas uma causa social - é um imperativo económico.

Segundo o estudo Women in Work 2025 da PwC, a igualdade de género está fortemente correlacionada com aumentos de produtividade e crescimento económico. Ainda assim, o progresso é lento: à taxa atual, serão necessários mais de 46 anos para eliminar a disparidade salarial de género na OCDE. Em Portugal, em 2023, essa diferença situava-se nos 12,6%, ligeiramente abaixo da média da OCDE (13,1%).

0%

Em Portugal, em 2023, essa diferença situava-se nos 12,6%, ligeiramente abaixo da média da OCDE (13,1%).

Fonte: Women in Work 2025 da PwC

Embora distintos, estes dois princípios são interdependentes: transparência salarial e igualdade salarial.

  • Transparência salarial refere-se à disponibilização de informação remuneratória por parte das entidades empregadoras, assegurando que os colaboradores têm acesso aos níveis médios de remuneração, desagregados por género.

  • Igualdade salarial garante que homens e mulheres recebem remuneração equivalente por funções de igual valor, com base em critérios objetivos, neutros e auditáveis.

Sem transparência, é difícil detetar desigualdades. Sem igualdade, a transparência torna-se um exercício meramente formal.

Newsletter HR for Business

Transforme o presente. Prepare o futuro.
Subscreva já

Desafios e benefícios estratégicos para as organizações

A Diretiva 2023/970 centra-se, assim, em três grandes áreas de transformação:

1. Maior acesso à informação salarial

  • As entidades empregadoras serão obrigadas a divulgar as faixas salariais nas ofertas de emprego;
  • Proibição de inquirir candidatos sobre o seu histórico salarial;
  •  Direito dos colaboradores a conhecer os níveis médios de remuneração e os critérios de progressão, desagregados por género.

2. Obrigatoriedade de reporte regular

  • Organizações entre 100 a 250 colaboradores terão a obrigação de reportar disparidades salariais à autoridade nacional competente de 3 em 3 anos;
  • Organizações com mais de 250 colaboradores terão a obrigação de realizar esse reporte anualmente;
  • Disparidades superiores a 5%, não justificadas por critérios objetivos, exigem medidas corretivas.

3. Acesso facilitado à justiça

  • Colaboradores vítimas de discriminação remuneratória podem requerer compensação

Estes mecanismos impõem novas obrigações — mas, mais do que isso, exigem um novo mindset.

A função RH é chamada a liderar este processo, integrando a equidade salarial na arquitetura organizacional, nas práticas de compensação e na proposta de valor ao colaborador. Apesar da convergência com os princípios da diretiva, muitas organizações enfrentam entraves estruturais e culturais: ausência de sistemas robustos, resistência à mudança e receio de expor desigualdades históricas.

Mais do que uma obrigação legal, a igualdade salarial é uma oportunidade estratégica de transformação organizacional.

RH como Agente Estratégico na Consolidação da Equidade Salarial

A função de Recursos Humanos desempenha, assim, um papel central na consolidação de práticas de gestão mais justas, coerentes e orientadas para a criação de valor. Independentemente das exigências regulatórias, as organizações que optam por estruturar os seus modelos de compensação com base na transparência e na equidade posicionam-se de forma mais sólida perante o mercado e perante o seu capital humano.

Para transformar a equidade salarial numa prática organizacional sustentável, os RH devem assumir uma atuação proativa, com intervenção estruturada em várias frentes críticas da gestão de pessoas:

Quadrados em Linha
1. Revisão da estrutura de funções
Revisitando a arquitetura organizacional, incluindo hierarquias funcionais, categorias profissionais, famílias de funções e articulações entre cargos, permite clarificar papéis, responsabilidades e níveis de decisão. Esta revisão cria uma base sólida para decisões salariais mais objetivas, facilitando a identificação de equivalência funcional entre diferentes posições.
2. Mapeamento e avaliação das funções com critérios claros e objetivos
Aplicar metodologias de avaliação de funções que incorporem critérios como responsabilidade, complexidade, autonomia, impacto e competências requeridas. Estes critérios devem ser neutros em termos de género e basear-se em exigências funcionais reais, permitindo classificar e comparar posições de forma estruturada, servindo de base para a definição de grelhas salariais justas.
3. Promoção de auditorias internas regulares
As auditorias salariais permitem identificar discrepâncias injustificadas entre colaboradores que desempenham funções semelhantes ou até iguais. A análise recorrente dos dados remuneratórios - desagregados por género, nível funcional e unidade organizacional - possibilita a deteção de padrões críticos e alimenta planos de correção eficazes.
4. Revisão de políticas de progressão e aumentos com base em mérito e critérios neutros
É essencial garantir que a evolução salarial e a progressão na carreira assentam em critérios claros, mensuráveis e comunicados a todos os colaboradores. As decisões devem ser fundamentadas de acordo com o desempenho, desenvolvimento de competências e contributo para os objetivos organizacionais, de forma a evitar subjetividades ou práticas informais que perpetuem desigualdades.
5. Revisão dos sistemas de avaliação de desempenho e modelos de carreira
Os modelos de progressão e desenvolvimento devem estar alicerçados em sistemas de avaliação de desempenho objetivos e compreensíveis. Avaliações claras, justas e alinhadas com os critérios de evolução profissional são determinantes para garantir que as oportunidades de crescimento são acessíveis a todos, com base em mérito e resultados.
6. Desenvolvimento de uma cultura organizacional orientada para a confiança e justiça
A cultura é o verdadeiro pilar da equidade. Promover comportamentos organizacionais que valorizem a justiça, o respeito e a equidade nas relações interpessoais cria um ambiente onde os princípios de igualdade não apenas existem - são vividos.
7. Desenvolvimento de campanhas de comunicação interna
A transparência não depende apenas da existência de políticas claras - exige uma comunicação acessível, compreensível e regular. As campanhas de sensibilização devem envolver as lideranças e criar espaço para que os colaboradores compreendam os princípios de equidade que regem as decisões salariais e de progressão.
8. Capacitação da liderança para decisões salariais justas
Os líderes de equipa desempenham um papel crucial na aplicação dos princípios de equidade. Devem ser capacitados não só para tomar decisões coerentes e baseadas em critérios objetivos, mas também para comunicar essas decisões de forma transparente e segura, reforçando a confiança no processo.


Construir o Futuro com Igualdade Salarial

O caminho rumo à igualdade salarial será contínuo, exigindo um compromisso de longo prazo. Espera-se que, no futuro, a transparência deixe de ser uma exigência legal para se tornar uma norma cultural. A pressão dos stakeholders, a evolução das expectativas sociais e a força das novas gerações no mercado de trabalho irão acelerar esta transformação. As organizações que se anteciparem e adotarem práticas alinhadas com estes valores estarão mais preparadas para enfrentar os desafios do futuro e liderar com propósito.

As organizações que atuarem em 2025 de forma estratégica e não reativa estarão melhor preparadas para liderar no novo paradigma.

A função RH tem aqui uma oportunidade clara:

  • reforçar o seu posicionamento enquanto agente de mudança; e
  • parceiro de negócio

Aqueles que investirem já em diagnósticos, modelos de avaliação e políticas de equidade darão um passo decisivo não apenas no cumprimento das exigências, mas na construção de organizações mais fortes, coesas e sustentáveis.

Andreia Ramos Coelho

Andreia Ramos Coelho

Workforce Senior Consultant,
PwC Portugal

Andreia Ramos Coelho iniciou a sua carreira em Consultoria na PwC Angola em 2014, onde desempenhou funções durante mais de 7 anos, nomeadamente em projetos de Gestão Estratégica de Recursos Humanos e Formação em setores como o financeiro, público e petróleo. Atualmente, é Senior Consultant na equipa de Workforce da PwC Portugal e conta com mais de 10 anos de experiência em consultoria estratégica de RH. Ao longo do seu percurso, tem-se especializado na coordenação e implementação de iniciativas de Gestão e Desenvolvimento de Talento, Gestão de Carreiras, Reestruturação Organizacional, definição de níveis e benchmarking de funções, Due Diligence, Otimização de Processos de RH e Gestão da Mudança. Adicionalmente, é certificada em ferramentas de avaliação de competências pela SHL Portugal, em Job Grading segundo a metodologia STRATA, em Gestão Ágil de Projetos pela XPM Consulting e possui também a Certificação Inicial de Competências Pedagógicas para Formadores, atribuída pelo MAPTSS.
___
Licenciatura em Relações Internacionais pelo Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa
Maria Garcia Guerra

Maria Garcia Guerra

Workforce Consultant,
PwC Portugal

Maria Garcia Guerra iniciou a sua carreira profissional na área da Gestão Estratégica de Recursos Humanos em 2020 e juntou-se à PwC em 2024 enquanto Consultora na área de Workforce. Ao longo do seu percurso profissional, já trabalhou em diversos projetos de Estratégia de Recursos Humanos, nomeadamente Avaliação de Desempenho, Avaliação de Recursos Humanos, Due Diligence, Gestão da Mudança, Estudos Salariais, Estudos de Clima Organizacional, Programas e Estruturas de Desenvolvimento e Formação, Reestruturação Organizacional e Saúde e Bem-Estar Corporativo. Participou ainda em projetos de estudo e investigação em temáticas relacionadas com a Igualdade de Género em contexto laboral, e a Saúde Mental nas organizações. Adicionalmente, possui uma certificação em Assessment de Personalidade e Aptidões pela The British Psychological Society.
___
Mestrado em Organizational Psychology pela Leeds University Business School, University of Leeds
Licenciatura em Ciências Psicológicas pelo ISPA – Instituto Superior de Psicologia Aplicada


Continue a ler a mais recente edição da "HR for Business".

Subscreva e receba no seu email um alerta sobre cada nova edição!

Precisa de ajuda no âmbito da Igualdade e Transparência Salarial?

Saiba como a equipa de Workforce da PwC pode ajudar no seu negócio!


• Revisão da estrutura de funções
• Mapeamento e avaliação das funções com critérios claros e objetivos
• Promoção de auditorias internas regulares
• Revisão de políticas de progressão e aumentos com base em mérito e critérios neutros
• Revisão dos sistemas de avaliação de desempenho e modelos de carreira
• Desenvolvimento de uma cultura organizacional orientada para a confiança e justiça
• Desenvolvimento de campanhas de comunicação interna
• Capacitação da liderança para decisões salariais justas

* A PwC dispõe de diversas equipas especializadas que apoiam diferentes áreas da Igualdade e Transparência Salarial.
Conheça os nossos serviços 

 

Siga-nos

Os campos obrigatórios estão assinalados com um asterisco(*)

Ao submeter este formulário assume ter lido a nossa declaração de privacidade, dando o seu consentimento para que façamos o processamento de dados de acordo com a referida declaração (incluindo transferências internacionais). Se, a qualquer momento, mudar de ideias quanto à receção de informação sobre a PwC, poderá enviar-nos um email.

Contacte-nos

Gabriela Teixeira

Gabriela Teixeira

Consulting Lead Partner, PwC Portugal

Ana Isabel Marques

Ana Isabel Marques

Workforce Senior Manager, PwC Portugal

Fechar